O nascimento da minha primeira filha e o re-nascimento do meu propósito

Hoje faz 10 anos que a minha primeira filha Lara nasceu e que passei as 36 horas mais difíceis e intermináveis da minha vida, que me levaram à maior transformação de sempre: ser mãe! Trinta e seis horas que mudaram a minha vida para sempre. O parto da minha filha, começou numa madrugada com pródromos suaves e terminou quase dois dias depois com o nascimento não só dela, mas também com o que mais tarde se revelou o impulso do trabalho que viria a transformar a minha vida — e a de tantas outras mulheres e bebés.

Nesse primeiro dia, fiquei por casa. Caminhei um pouco, deitei, respirei. Passei o tempo entre o sofá e os silêncios, tentando poupar energia, escutando o meu corpo e os seus ritmos. Já nessa altura, intuitivamente, eu sabia que precisava respeitar o tempo do nascimento, mesmo sem ter ainda a consciência plena de tudo o que sei hoje.

Durante o início da madrugada seguinte, as contrações intensificaram. Eu sabia que estava em trabalho de parto. Usei a bola de Pilates, liguei o meu difusor com óleos essenciais, pus música que me centrava e mergulhei naquela dança primitiva entre o corpo e o nascimento. Avaliava a dilatação por mim mesma — o meu corpo e a minha bebé sabiam o que fazer. Ali não era parteira, era uma mulher em trabalho de parto, inteira a viver a sua experiência pela primeira vez.

Quando as contrações passaram a vir de minuto a minuto e já não conseguia perceber a dilatação nem sentir a cabeça do bebé, decidi ir para o hospital. Fui bem-disposta, com o pai da Lara ao meu lado, acreditando que em breve a teria nos braços. Ao dar entrada, disseram-me que estava com oito centímetros. Quase lá.

Apesar do meu plano de parto indicar o contrário, deixei que rompessem a bolsa. Fui convencida de que isso aceleraria o processo — e, mesmo sabendo em teoria o que isso significava, senti-me aliviada pela possibilidade de acelerar o processo e cedi. A partir daí, tudo mudou. As contrações tornaram-se mais intensas, e o ambiente do hospital, mesmo com algumas gentilezas como me deixarem estar com a minha música e aromas, não me transmitia segurança. O meu corpo reagiu: comecei a fechar-me.

Senti o trabalho de parto regredir. Já não eram oito centímetros. Disseram que estava com cinco. A presença de um enfermeiro que me avaliou sem qualquer empatia, sem sequer um cumprimento, marcou-me profundamente. As suas palavras — as quais só me lembro “põe uma perna para ali e outra para ali (apontando para os estribos), fazendo com que abrisse as pernas, enquanto se sentava na cama à minha frente e introduzia os dedos na minha vagina, sem qualquer pedido de permissão da minha parte— deixaram um rasto de desconforto e invasão, para dizer a verdade senti-me abusada. Era como se já não fosse eu que estivesse ali. Era o sistema. Era o protocolo. E eu era apenas um corpo a ser gerido. E a minha bebé um objeto de trabalho.

Senti vontade de fazer força várias vezes, e diziam-me para esperar. Colocavam o CTG, não me diziam nada. O silêncio das respostas era ensurdecedor. A desconexão era brutal.

A meio da noite, pedi que considerassem a epidural. Sabia que só seria possível de manhã, mas queria adiantar tudo para quando chegasse o momento. Quando finalmente me foi administrada, por volta das 10h da manhã, a dilatação completou-se em 15 minutos. Já falavam em cesariana, mas como tinha os 10 centímetros, decidiram esperar. Faltava a descida da Lara.

Insistiram na oxitocina artificial. Eu estava com contrações, mas queriam acelerar. Assinei o consentimento e fiz. Até que, finalmente, às 2h48 da tarde, a Lara nasceu. Por parto vaginal.

Mas entre esses momentos, vivi um vazio muito grande.

Senti-me sozinha. Abandonada. Não só pelas pessoas ao meu redor, mas também por Deus. Estava em desespero. Em muitos momentos, cheguei a pensar que o melhor seria uma cesariana, que acabasse com tudo aquilo, porque estava a ser demasiado. Duro demais. Profundamente solitário. Só mais tarde percebi: eu estava a reter a minha filha. Estava a contrair todo o meu corpo. Em vez de relaxar, em vez de ser canal, eu estava a resistir. Com medo. Com dor. Com desamparo.

E foi precisamente no momento em que a Lara estava a nascer que tocou, na playlist que eu tinha preparado com tanto carinho, a música que eu tinha escolhido como a música para o nascimento dela. Uma peça do Ludovico Einaudi. Era aquela que eu sonhava ouvir no instante em que ela viesse ao mundo — e foi exatamente essa que começou a tocar. Naquele momento, um arrepio percorreu-me o corpo todo.

Ali percebi: “Nós estivemos sempre aqui contigo, nunca te abandonamos!.”

Deus sempre esteve comigo. Eu é que, no desespero, O tinha abandonado. Mas Ele… Ele nunca saiu do meu lado.

Essa revelação foi como luz no meio da escuridão. Uma confirmação profunda de que o invisível está presente, mesmo quando nos sentimos perdidas. Mesmo quando gritamos em silêncio.

A Lara nasceu. Colocaram-na em cima de mim. Os pezinhos que eu tinha sentido durante meses estavam agora ali, reais, quentes, no meu peito. Aquela sensação… aquele instante… compensou tudo.

Foi o parto mais difícil da minha vida. Mas também foi o mais transformador.

E foi esse parto que me fez começar a fazer questões mais profundas sobre a preparação para aquele momento, sobre como a maioria  dos profissionais são inconscientes do impacto que emocional no processo de parir, na experiência do bebé e como a experiência da mãe e dele próprio o afeta e ao vínculo entre os dois. As opções, o sistema, a forma como nos ficamos no que tememos, a forma como somos tratadas, como somos ouvidas — ou não.

Ali nasceu também o meu propósito: oferecer às mulheres um caminho diferente. Um caminho de preparação psicoemocional para o nascimento, onde o foco está na prevenção do trauma mae-bebé e na manifestação  consciente da experiência que desejamos viver. Um caminho onde o apoio emocional e espiritual não é um luxo — é uma necessidade.

Porque não devemos ir para onde não nos sentimos seguras. Nenhum mamífero o faz. Nós também não devíamos fazer. 

E não devemos ir com bloqueios emocionais! Com medos por desconstruir! Com

Histórias anteriores por curar! 

Hoje, todo o meu trabalho é um agradecimento à Lara e ao nosso parto. Foi ela quem me mostrou, no corpo e na alma, o que era preciso fazer. Graças a ela, hoje estou aqui, ao lado de outras mulheres, com profundidade e maior consciência, ajudando-as a desbloquearem os seus medos e a prepararem-se para nascer com os seus filhos. Com verdade, com presença, com amor.

Se estás a preparar-te para parir e desejas fazê-lo com consciência e apoio emocional profundo, convido-te a conhecer o meu trabalho: www.Geraramor.com

Continua no próximo artigo de blog